E a vida continua caminhando mediada por telas digitais e protegida por máscaras e luvas. Na curva da mudança proposta por Kübler-Ross já fomos e voltamos tantas vezes que já chegamos ao ponto da integração de construir tantas novas possibilidades, que aquele lugar, não tão distante, não existe mais. Esse aprendizado tem sido tão duramente poderoso que nos despimos de todos os preconceitos e saímos da caverna, mesmo com os olhos doendo, para conhecer um novo mundo que tem se mostrado. E será que não é aí que deveríamos viver?

Sim! Aquele mundo não existe mais. Sim, saímos, ou estamos saindo da caverna (ah! parece que Platão já tinha anunciado este momento há mais de 2.400 anos atrás! 😉) . Sim, estamos abrindo os olhos e experimentando um novo mundo, cheio de possibilidades, como uma criança que descobre todas as cores e formas deste ‘planetinha’. E, apesar da dor, de ter que largar tudo aquilo que nos fez chegar até aqui, temos tido uma alegria imensa em poder nos enxergar e enxergar o outro com outros olhos, com outros sentidos. Sim! Para mim especialmente que ‘vejo com as mãos’, essa telinha entre nós tem sido um ‘baita’ desafio. Para ler as emoções dos outros tenho exercitado enormemente a escuta ativa e feito muitas perguntas. Sim! Tenho aplicado a CNV (Comunicação Não Violenta) na prática para compreender tudo aquilo que não fomos ensinados a dizer. Porque nossas emoções ficavam guardadas lá em algum lugar bem distante, mas que emergiam sem controle em situações que muitas vezes não conseguíamos justificar racionalmente.

E agora está tudo aqui. Estamos tendo que nos reconhecer em nós mesmos. Estamos tendo que (re)aprender sobre as nossas emoções fazendo perguntas para nós mesmos, pelo simples fato de pararmos o mundo. E é sobre isso que tenho falado e aprendido muito com líderes e equipes. Tenho aprendido com cada nova história que se apresenta mediada por uma tela. E tem sido lindo de se ver e de viver! Então, a pergunta que tenho feito hoje para líderes e todos aqueles que tem se aberto para refletir é: será que você ainda quer voltar para aquele lugar? O que é este novo normal para você? Será que aquela vida que você tinha, que nós vivíamos fará algum sentido no futuro?  E as novas possibilidades tem sido tantas que tem muita gente que não quer mais voltar para o escritório, não quer mais perder tempo no trânsito, não quer mais comer qualquer coisa na rua, não quer mais perder tempo de ser o que não é, não quer mais não falar do que sente. A beleza desse novo lugar, desse novo normal, tem sido o de se permitir ser tudo aquilo que o coração tem pulsado. Viver tudo aquilo que antes não dava tempo e falar e sentir todas as emoções que antes eram sufocadas pela correria, pela racionalidade.

Tenho acreditado que neste novo normal nós vamos realmente conseguir viver a verdadeira humanidade, de tirar todas as capas que nos protegem, de deixar o sol nos mostrar o que temos escondido de nós mesmos, para podermos enxergar o outro, não com nossas lentes, não querendo encaixar no nosso mundo, mas sob a perspectiva do outro, respeitando as suas escolhas, as suas verdades. E será que não é aí que irão surgir novos líderes, novos times, novas famílias, novas sociedades? Dos aprendizados deste novo normal, navegar no incerto é premissa e se permitir aprender constantemente é para os fortes e para aqueles que querem continuar por aqui. Porque o que passou, passou, e já tem uma nova música tocando, mas vamos ter que nos permitir deixar levar. 😉

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊