Foto: EVANDER PORTILHO

               Sempre me achei péssima como contadora de histórias. Na verdade, minha ansiedade em contar logo o final fazia com que eu não tivesse muita paciência com os detalhes do meio do caminho. Mas sempre adorei as pausas dramáticas do melhor contador de histórias que eu já conheci, papai. Elas sempre prendiam minha atenção, como assim ele parou de contar logo agora? Conta, conta, conta…o que acontece depois??? As melhores eram aquelas que ele contava para me ensinar algo maior do que simplesmente dizer como eu deveria fazer.

               Dizem que nós trabalhamos com aquilo que mais precisamos. Para educadores, aprende mais quem ensina. Nas organizações então, nem se fala, quer desenvolver alguém? Peça para essa pessoa ensinar o que precisa ser desenvolvido. Pois é, lá fui eu subir no palco para ensinar. Preciso melhorar muito minha pausa dramática, pensei. E comecei a observar outros contadores de histórias, o que eles faziam para que as pessoas ficassem ali atentamente ouvindo seus causos? Percebi que mais do que falar, eles ouvem. Atentamente os contadores de histórias prestam atenção no público. Eles leem as pessoas, observam se estão ali de corpo e alma presentes e mudam sua entonação, fazem pausas dramáticas, e olham nos olhos para que o outro viaje junto naquela história.

               Nas organizações a gente chama de mentoria. Aquela pessoa que, pelas histórias que conta, consegue conduzir o outro a imaginar novos lugares, a achar outras soluções. Então imagine o poder de influência dessa pessoa? Ou simplesmente o poder que essa pessoa tem. Para ser um mentor não basta ter vivido e ter uma boa história para contar, é preciso estar atento ao outro, saber ler os sinais, deixar pistas, fazer pausas dramáticas e muitas vezes não falar nada. E isso só é possível quando se entende que a pausa dramática vem com o tempo. Que não adianta dar todas as informações do mundo, todas as dicas e direções se o elemento tempo não for respeitado.

               Tempo de escuta, tempo de processar, tempo de agir e tempo de ressignificar. Agora você deve ter entendido a escolha do meu mentor nessa história não é mesmo? Não era a minha ansiedade que não me permitia contar boas histórias, era a pouca experiência, a ânsia por produzir que fazia com que eu já quisesse chegar ao final. Mas o tempo e a experiência daqueles que vieram antes nos contam, no tempo do tempo, um passo de cada vez, que é importante não pular as etapas, mas sim vivê-las. Papel dos mentores de plantão, tranquilizarem a juventude acelerada, por meio de suas histórias, sobre o passar do tempo. Não conheço ferramenta mais poderosa que ensina que quem veio antes tem muita história para contar e quem está chegando também terá sua vez de subir no palco! 😉          

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊