Atuei alguns anos como RH de fábricas (acho incrível essa capacidade que temos de ‘engenheirar’ a vida e transformar uma matéria prima em um produto acabado) e hoje, como consultora, continuo desenvolvendo projetos em indústrias. E, neste caminhar tem um ponto que sempre me intrigou. O 3º turno, aquele que normalmente opera na madrugada, muitas vezes não tem chefe!!!! E as coisas funcionam!!! (Ouso afirmar que em muitos casos melhor do que na presença de um gestor!!!!😉) Desta e de outras inquietações que comecei a estudar outros modelos de gestão de equipes. E nos últimos tempos tenho me debruçado sobre o tema de equipes auto gerenciáveis.

Quando comecei a ler sobre as equipes auto gerenciáveis me deparei novamente com a pergunta: será o fim da liderança? E confesso que foi com um grande alívio que pensei: Ufa! Esse peso enorme que os líderes carregam de serem responsáveis por outras pessoas, pela segurança, pela qualidade, pelo resultado, pelo desenvolvimento, pela motivação, etc., etc., etc., vai acabar! 😊 Para quem olha de fora e almeja uma posição de liderança como destaque em sua carreira pode estar encantado com o ‘glamour’ de ser o herói (ou heroína) das histórias, aquele que é reconhecido, que tem uma sala própria e um monte de benefícios. Na verdade, tem uma faceta que falamos pouco, que é o peso enorme que o líder carrega em ter que decidir o tempo todo, escolher os caminhos, assumir os riscos e muitas vezes o bônus não compensa o ônus neste processo.

Esta dor da liderança eu senti na pele! Durante toda minha carreira tive equipe. E eu realmente acredito que trabalhar em times é muito mais rico do que individualmente. E mesmo tendo posições formais de gestão dentro de organizações, nunca acreditei que as respostas viessem de uma única pessoa, nunca acreditei que eu, como líder, deveria “mandar o tempo todo”. Mas, teve uma fase que senti esse peso enorme de ser responsável por dar todas as respostas. E quando essa ideia errada começou a assombrar minha vida como gestora logo busquei alternativas. Porque do fundo do meu coração eu sempre acreditei na autonomia das pessoas. Todas as pessoas são capazes de aprender e fazer perguntas. Todas as pessoas, com saúde, são capazes de fazer escolhas e responder por elas. Então, por que o líder precisa dizer o que o outro deve fazer? Neste processo o Coaching me ajudou muito!!! Foi libertador devolver o ‘problema’ e a solução para a equipe. Porque muitas vezes, por mais que eu soubesse o caminho e a resposta, ele não serviria para o aprendizado do meu time. Aquele tinha sido o meu aprendizado, o meu caminho, que me levou às minhas escolhas, mas que não levaria necessariamente as escolhas do outro, ao aprendizado de adultos que são capazes de fazer suas próprias escolhas.

Dado essa libertação do peso de liderança, (Ufa! Não preciso mais carregar aquela mochila de pedras com todas as responsabilidades e respostas corretas a serem dadas!), as equipes auto gerenciáveis me parecem uma alternativa incrivelmente sensata no mundo em constante transformação e no qual a palavra de ordem é mudança (ou VUCA (volatility, uncertainty, complexity, ambiguity)). Como ter todas as respostas para todas as coisas que nem imaginamos? Mas a crise da liderança não termina aí. Afinal, mesmo nessas equipes que se organizam e se auto gerenciam, em algum momento, temos a figura de um líder, aquela pessoa que assume a responsabilidade e responde pelas decisões tomadas. (Afinal equipe que se auto gerencia não tem nada a ver com todos acreditarem na mesma coisa e concordarem com todas as decisões. Vale a pena conferir o que os autores Frederic Laloux de “Reinventando as Organizações” e Brian J. Robertson autor de “Holacracia” falam sobre o tema). Mas então o que muda?

 Acredito que a mudança está em deixar de ser espelho e vidraça. Por quê? Porque esse líder em determinado momento irá atuar como integrante da equipe e, os membros da equipe irão atuar em algum momento como líderes, de seus projetos, de seus sonhos. O que muda? Muda o peso, a dimensão, a humanidade, o olhar para o outro como alguém que está, assim como eu e você, em um constante processo de aprendizagem. E, nesta condição de eternos aprendizes conseguiremos navegar nesta MU-Vuca, neste mundo em constante transformação. Mas não de uma forma passiva, esperando a resposta de outra pessoa, mas como protagonistas, líderes em nossa jornada. E é por isso que precisamos e precisaremos cada vez mais de líderes. Líderes situacionais, líderes de projetos, líderes de propósitos. E o primeiro passo começa por nós mesmos! Liderando nossas escolhas e caminhos, com as dores e amores de sermos responsáveis pelos erros e acertos. E depois, liderando nossos objetivos, nossos sonhos, guiados pelos nossos valores e princípios. E, nesta jornada, sempre nos apoiaremos e inspiraremos em outros líderes, nas suas histórias, para que possamos tecer o nosso próprio caminho. Afinal, o aprendizado não está em atingir o alvo, mas sim em caminhar o caminho e ser herói (ou heroína) da sua própria história. 😉

Paula Foroni conduz projetos de transformação organizacional. É consultora, coach, professora e pesquisadora. Mestre em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo é apaixonada em conectar e desenvolver pessoas.