Refletindo sobre o poder dos rituais na transformação da cultura organizacional, encontrei algumas ideias ótimas no livro Rituals for Work. Pode parecer coisa de RH mas os rituais são muito mais do que simples ‘festinhas’ organizadas na tentativa de conectar as pessoas. Eles falam muito sobre a cultura e os valores de uma organização. Para ser sincera eu só fui começar a compreender o poder desses eventos, esses marcos presentes no dia a dia das empresas, quando eu tive a felicidade de conduzir um processo de transformação cultural, há alguns anos, em uma multinacional brasileira com mais de 6.000 funcionários. E, claro, para quem tem um lado crítico (perfilzão C para os apaixonados por DISC) eu quis compreender o que tudo aquilo significava fui estudar o que os autores sobre o assunto falavam! 😉 (alguns deles: Edgar Schein – Liderança e Cultura Organizacional, as professores Maria Teresa Fleury  e  Rosa Maria Fischer – Cultura e Poder nas Organizações e Carolyn Taylor – Walking the talk).

Mas afinal o que são esses tais rituais? Quando pensamos na jornada do funcionário, o tempo que uma pessoa passa conectado a uma organização (que começa antes de entrar e termina depois de sair), temos alguns marcos nesta trajetória: descobrimento da empresa, aplicação a uma vaga, o processo seletivo, entrada na empresa, reuniões, apresentações a diferentes grupos, feedbacks, promoção, mudança de área, saída etc, etc, etc.). No meio de tudo isso ainda temos aqueles promovidos pelas empresas para conectar as pessoas e transmitirem mensagens: almoço especial, happy hour, festa de confraternização, café com o presidente, TGIF (Thank God It is Friday – vale a pena dar uma espiada no Goolgle) etc). Esses eventos ou rituais, que podem ser planejados ou não, marcam a vida das pessoas. Cheios de significado dizem muito sobre o ‘jeitão de ser’ daquele lugar, daquele grupo. E por esses momentos serem carregados de significados e emoções é que eles são tão especiais na cultura de uma organização.

Vamos utilizar um exemplo simples para ilustrar: o primeiro dia do funcionário na empresa. “Imagine então que você foi contratado e hoje é o seu primeiro dia na empresa. Você chega no horário combinado e fica esperando do lado de fora por mais de 1 hora. A pessoa que iria te receber não chegou e ninguém sabe de nada. Quando finalmente a pessoa chega ela te entrega alguns documentos para assinar, sem grandes explicações e liga para o seu novo chefe que está em uma reunião e só conseguirá conversar com você depois do almoço. Então você vai para uma sala e espera mais um bom tempo…” ah…essa história vai longe!!! Como será que você se sentiu neste dia? O que será que este evento te contou sobre esta empresa, sobre as pessoas que trabalham ali? Captou a mensagem? Os rituais contam a história das organizações, o que é importante e o que não é. Não dá para negar a importância da cultura de uma organização. Tem uma máxima que diz que o que está dentro reflete o que está fora. Por isso, começar por dentro vai ajudar muito nos negócios lá fora! 😉

E nesta jornada de compreender e transformar organizações, hoje apoio empresas utilizando metodologia (dados e muitos testes! design thinking ajuda muito nesses processos!), definindo novos rituais para construir uma nova cultura organizacional. Não são eventos soltos, são pensados, criados e implementados com a ajuda e para aqueles que vivem aquela história. Tiramos da parede as intenções para realmente fazer com que elas aconteçam. E esses novos rituais são cheios de emoção, de significados, de símbolos para marcarem de maneira positiva a vida das pessoas. E mais do que isso, eles são definidos para acontecerem de forma sistemática, mais de uma vez. Porque não se transforma a cultura de uma organização com uma reunião feita de forma diferente. É preciso que aquele evento vire um ritual, faça parte da vida das pessoas, elas saibam que irá acontecer, que saibam como se comportar e realmente vivenciem o novo ‘jeito de ser’.

Então, se você quer transformar a cultura de uma organização, minha dica é: observe os rituais! O que eles estão te contando? Será que eles estão dizendo o que deve ser dito? Ou será que estão indo contra aqueles valores pendurados na parede? Se eles não estão contando a história da sua empresa, redesenhe, mude, transforme! Promova discussões sobre a forma como as coisas acontecem na sua organização. Não deixe que eles aconteçam de qualquer forma. Defina como você quer que as pessoas se sintam sobre a sua empresa. E use esses eventos para contar essa história! Sob a ótica de quem irá receber, vivenciar, experimentar a cultura da sua organização. Assim, parafraseando Peter Drucker, “a cultura NÃO VAI devorar a organização no café da manhã.” 😉

 

Paula Foroni conduz projetos de transformação organizacional. É consultora, coach, professora e pesquisadora. Mestre em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo, é apaixonada em conectar e desenvolver pessoas.