E parece que o tempo voltou a operar. Ou será que tem sido a quantidade de atividades que queremos realizar para sobreviver, viver, reviver. Dos aprendizados da pandemia, certamente a elasticidade do tempo tem sido uma delas. Para alguns não deu tempo, de ver, de sentir, de ir. Para outros sobrou tempo para olhar, pensar, organizar, desorganizar, criar, mudar.

 Na concretude da vida a um clique de distância, o tempo deixou há muito tempo de ser regido pelas atividades da vida cotidiana. Extrapolamos essa dimensão que tem se refletido na enorme conectividade, comunicação e entregas das pessoas e das organizações. Mas tem uma dimensão do tempo, o tempo da espera que parece que não tem encurtamento. Como viver a um clique de distância e não saber quando será o fim, quando o antigo normal vai voltar? Neste ponto da caminhada já entendemos que não tem volta. Que aquele lugar que um dia existiu, aquele espaço no tempo não existirá mais.

Mas, quanto mais percebemos o poder desse deus tão lindo da melodia de Caetano, mais nos entregamos de novo, de volta à vida cotidiana, ao hoje, ao agora. Deixamos de projetar, de planejar, de sonhar ansiosamente com um futuro que está tão perto e tão longe. Nessa beleza do tempo do agora que observamos a respiração, os batimentos, o caminhar. E, por voltarmos a olhar o ritmo da vida que revisitamos o ritmo das máquinas, dos relatórios, das entregas, das urgências do mundo lá de fora.

E neste tempo que só consigo viver se estiver presente que mora a beleza de todos os sentimentos que não reconhecíamos porque não dava tempo, de todas as conversas que deixamos para depois por falta, ou coragem, por todas as verdades nossas e do outro, que não erámos capazes de ouvir. Será que esta lição do tempo vai ser tão profunda que não vamos mais nos guiar pelos minutos produtivos, pela espera dos dias de descanso? Será que vamos respeitar o nosso tempo? E vamos fazer escolhas mais conscientes que talvez precisem de uma noite de sono, ou muitas, entre uma decisão e outra? Ou será que vamos continuar preenchendo esse espaço com mais um milhão de atividades porque agora tem sobrado tempo e não sabemos o que fazer com ele?

Tempo, tempo, tempo, tempo…vou te fazer um pedido…não leve mais o presente embora. Estenda os minutos, os segundos, os milésimos para que todos possam viver a beleza que os apaixonados, ou aqueles que operam no estado de flow de Mihaly Csikszentmihalyi sentem da infinitude da existência, do significado, da entrega, do sentir, do pertencer. Senhor do destino ensine à humanidade que só naquilo que perdemos a noção do tempo é que vivemos plenamente o hoje, o aqui e o agora.  

 

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊