Fui desafiada por um grande amigo a repensar o papel de recursos humanos. Na verdade, o meu papel nas organizações. Costumo dizer que saí do RH mas que o RH não saiu de mim porque continuo atuando da mesma maneira que atuava, como parceira estratégica apoiando líderes, times e organizações a se desafiarem e irem além em suas relações e objetivos. Mas tem um ponto crítico que, no meio desta nova configuração que se instalou no mundo, de home office, de equipes que se autogerenciam, de liderar a si mesmo para conseguir navegar na complexidade, incerta dos tempos atuais e futuros, que tem me intrigado. O que nos ancora em um lugar, em uma equipe, em um projeto, em uma organização?

 E tão habituada a olhar para fora, além do horizonte, para o alto e avante, para metas, objetivos e tantas outras coisas que o mundo lá fora nos chama que nem pensamos no grande emaranhado que nos conecta na profundidade das relações, invisíveis ao externo, mas que fazem com que não percamos nossas referências quando o vento que sopra forte nos fazendo perder nossas folhas. Sim! Lá no fundo, dentro de cada um de nós temos uma rede enorme de valores que nos ligam a outros similares por meio de nossas histórias que carregamos, que permeiam lutas e glórias de nossos antepassados e refletem em nós hoje. E transbordam em nossas ações e fazem com que de novo e de novo nós realizemos atos heroicos e busquemos aqueles que ecoam e vibram na mesma sintonia.

 E nessa linda conexão que buscamos aqueles que nos são iguais, que sem muita clareza sentimos que estamos em casa e queremos estar ali, queremos fazer projetos juntos, queremos trabalhar juntos, temos uma alegria imensa em partilhar e lutar e construir novos caminhos. Sim! ligamos nossos valores aos valores de toda uma rede de pessoas nas empresas, nos projetos e nos times que atuamos. Porque aqueles valores mais profundos que são nossas raízes, e que nos sustentam, estão interligados em redes invisíveis ao mundo lá de fora, mas completamente translúcidas ao nosso coração. Então, se você sente alguma desconexão, se sente fora de lugar em um time, projeto ou organização, volte para as suas raízes, olhe para dentro, para os seus valores e busque as respostas dentro de você. Porque para navegar nas incertezas e complexidades deste mundo que se transforma a um clique, a âncora está dentro, nos nossos valores, que nos aproximam e nos sustentam.

E são essas raízes, que fazem com que o RH (e todos aqueles que cuidam das pessoas nas organizações) não desapareça, mas que como todos que tiveram que olhar para dentro e compreender o que elas carregam os valores, as histórias, a conexão entre o passado e o futuro. E é sob este olhar, que faz com que o meu papel e o de muitos profissionais de RH permaneça vivo nas organizações, para ligar, religar, contar, lembrar, conectar e não deixar que as raízes morram, porque quanto mais profundas elas forem mais alta será a árvore, a floresta, a comunidade e os frutos que virão. Nesse emaranhado de valores entrelaçados, que conecta as pessoas aos projetos, times e organizações, tem também aquele que ajuda a lembrar o que é importante, que ajuda a olhar lá do alto o que vem pela frente, mas que também desce lá no fundo para além das emoções que as raízes guardam.

 

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊