Foto: EVANDER PORTILHO na 2a Edição do CAFÉ NA ÁRVORE

Somos um mar de sentimentos. Sentimentos que aprendemos que deveríamos esconder para adentrar ao mundo do trabalho. De ‘Homem não chora’ a ‘Ela está de TPM’, fomos colecionando frases para trancar e moldar nossas emoções em roupas que apertam. E então eis que fomos jogados para o nosso lugar de conforto, onde podemos realmente usar nossa roupa mais confortável e sentir, colocar para fora aquelas emoções que não são bonitas de se ver no mundo lá fora: raiva, medo, tristeza… E percebemos que mesmo no lugar que podemos tirar nossa roupa de proteção, nós não sabemos o que fazer com elas, não sabemos olhar, acolher, cuidar ou simplesmente sentir.

               A pesquisadora Brené Brown traduz lindamente, com dados e pesquisa cientifica, o poder que essas emoções que nos deixam completamente vulneráveis perante o outro tem. Mas claro que tem uma pecinha chave que vai fazer com que no momento que estamos expondo nossas fragilidades essa mágica de conexão aconteça, que é a empatia.  Empatia para sentir a dor do outro, para abrir as portas para começar uma conversa que a Carolina Nalon apresenta no seu TED sobre Comunicação Não Violenta, sistematizada por Marshall Rosenberg. Empatia não para resolver a dor do outro, porque não temos essa capacidade, mas para estar ali pelo outro, para ouvir, acolher, não julgar. Claro que a teoria é linda, ela organiza e nos ajuda a compreender e aquietar o coração. Mas se mal compreendida, se empatizarmos demais como sugere Paul Bloom, talvez a nova palavra a ser utilizada seja a compaixão.

               Não importa o nome que damos cientificamente, se é empatia ou compaixão que devemos ter para nos conectarmos verdadeiramente com a dor do outro, na prática ainda estamos falando de um espaço sagrado que cabe um sorriso, um silêncio, um lenço, um abraço. Não, não vamos resolver a dor do mundo com respostas e soluções do que já vivemos, não! Dizer, faça isso, faça aquilo, “Dê o troco”, “Engula esse choro”, não ajudam. Na verdade, só nos afasta seja no conforto das nossas casas ou no desconforto das organizações. O que realmente ajuda para que o outro lide com a sua própria dor e saiba que as emoções, mesmo aquelas que fomos educados, moldados, disciplinados a não demonstrar, querem nos dizer algo. Elas gritam em nossos corpos para que possamos processar, entender, aceitar aquilo que nossa razão não deu conta de explicar, de achar uma caixinha, um modelo científico, uma utilidade prática.

               E sim! Não precisa resolver, não precisa de um conselho prático, nem fazer um plano PDCA, o que precisa é apenas criar espaço para ouvir, acolher, sem julgar, sem expor. Aquele lugar da confiança, sabe? Que o outro pode falar da dor, pode chorar, pode dizer que tem medo, raiva, tristeza… e mesmo assim não vai ser visto com outros olhos, não vai deixar de ser importante, não vai deixar de fazer parte, nem de ser reconhecido e amado. E é neste lugar lindo de espaço, onde podemos verdadeiramente compartilhar nossas vulnerabilidades e que o outro só precisa ser e estar de corpo, alma e coração que as conexões verdadeiras acontecem, seja em casa, seja no mundo do trabalho.

Ah se o mundo soubesse o quanto que pelo acolhimento da nossa dor, que acontece nas pequenas coisas, na prontidão de ouvir, de querer estar, da mensagem de preocupação, no abraço, no lenço, no café, no olhar, ouvir, sentir, no chorar junto, nos conectamos verdadeiramente. Ah, esse mundão seria muito mais humano!!! Aquela disposição verdadeira de que queremos saber como o outro está, porque nos preocupamos, porque realmente nos importamos não segue protocolos e não tem regras. Ah se todos nós falarmos sobre a importância dessas relações, que nós realmente precisamos de mais pessoas assim no mundo para sermos mais humanos o mundo realmente seria um outro lugar para se viver.

               Então, para as relações que queremos ter de confiança em casa ou nas organizações, que a empatia e a compaixão façam parte da pauta das discussões das refeições e das reuniões. Que tenhamos espaço para perguntar: O que você está sentindo? Sem querer dar respostas ou resolver o sentimento do outro, mas talvez para verdadeiramente nos conectarmos como humanos e percebermos que aqueles lugares que doem, se tiverem espaço verdadeiro de escuta e de acolhimento, vão conectar cada vez mais as pessoas e não nos afastar como aprendemos. 😉

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊