FOTO: Evander Portilho

               Por muito tempo me questionei sobre o papel da liderança. Nunca vi a liderança de um lugar de certezas irrefutáveis, autoridade hierárquica ou algo que o valha. Mas sempre entendi e segui líderes que tocavam o meu coração e que, de alguma forma, me inspiravam a continuar na minha jornada. E tive muitos que me inspiraram e ainda inspiram, na minha própria família, no esporte e nas organizações que passei. Aprendi e aprendo com cada um que de alguma forma me fez ver o mundo sob outra perspectiva.

             E nesta construção voltei para os tempos em que eu jogava handebol. Lá na minha adolescência tive a felicidade de fazer parte de um time que disputava campeonatos, que levava a sério o esporte. E como aprendi naqueles anos!!!! Sobre ganhar e perder, sobre trabalho em equipe e principalmente sobre servir. Servir de base, de apoio, servir de ponte para que o outro brilhe, para que o outro faça o gol e para que todos ganhem.

               Confesso que demorei para entender por que eu era escolhida para ser a capitã do time. Isso acontecia na escola e aconteceu no clube. Sempre achei que a resposta estava em eu ser super falante, cheia de energia, que não via a hora de descer para jogar. Ah, e eu era aquela que colocava pilha mesmo para todo mundo ir para quadra. Bora jogar!? Oh tempo bom!!!! Porque era muito divertido, era o melhor momento do dia, jogar, não saber qual vai ser o próximo lance, aquela adrenalina de fazer gol e não deixar que o outro time vença. E ver cada um conseguir fazer o seu melhor. Ter respostas que nem em sonhos a gente poderia imaginar que aconteceriam. Eu era essa pessoa que gostava de estar lá, era a primeira a pegar a bola, bora dividir o time e vamos jogar!

               Hoje continuo jogando quando abro espaço para o meu time atuar ou quando sou facilitadora nas organizações. Gosto da expressão “convidar para o baile e tirar para dançar” que ouvi do meu orientador, o professor André Fischer, quando ele fala sobre diversidade e inclusão. Porque tem uma magia tão linda neste lugar de organizar a festa e tirar para dançar. Apesar da coreografia, do ensaio ajudar muito a quebrar as barreiras da timidez, de toda a preparação e do convite das pessoas que acontece antes, mas que só na hora nós vamos saber quais serão os passos, só dançando que a gente vai entender e viver o baile. E talvez seja por isso que eu era “escolhida” para esse lugar de abrir a pista de dança, escolher o time e começar o jogo.

               Nunca pensei no que aquilo significava. E hoje, quando falo sobre liderança e ajudo outros líderes a reconhecerem e compreenderem o seu papel como líder é neste lugar que eu volto. Nesta sensação de felicidade de ter o time pronto para jogar. E jogar! Independente do resultado. Confesso que muitas vezes canso, abrir caminhos cansa, manter a energia lá em cima pela certeza do lugar que tenho que ir muitas vezes não funciona de forma tão mágica e linda. No meio do caminho tem muitas pedras e obstáculos e já perdi as contas de quantas vezes perdi para mim mesma. E quero desistir e jogar a toalha e penso, por que invento para a cabeça? Por que não faço mais do mesmo?

                Mas, como dizem por aí, liderar é um caminho sem volta... porque quem tem sonhos, missão, propósito na vida não tem muita escolha não. Precisa liderar! Primeiro a si mesmo, depois outras pessoas. E não é pela força não, é servindo de base, de apoio, de exemplo. Abrindo caminhos porque enxerga de um lugar diferente. Liderar é muito mais do que ter uma posição firme de qual lugar se quer chegar, está em facilitar os meios, abrir espaço, ouvir o que não é dito, sintonizar-se com algo muito maior e seguir, sabendo que vão existir altos e baixos, vales e picos e que a jornada é o caminho, o chegar vai ser a consequência de todos os passos dados e que vão ter muitos ajustes, provas, desafios, contratempos para testar, fortalecer, realinhar e unir o time. Porque o líder só existe quando existe um time. E para que todos façam gol é preciso servir! 😉     

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊