Foto: EVANDER PORTILHO
Nesse lugar da liderança feminina, tem um ponto para mim que nunca foi uma questão: o da assertividade. Mas eu já vi algumas mulheres e homens perderem a mão no uso excessivo desse atributo masculino. Sabe aquela frase: é porque eu quero! Sou eu que mando! Que nada tem a ver com gênero, mas sim com estilo de gestão. Sim! esse, de comando e controle, eu mando e você obedece, que existe ainda em muitas organizações.
Mas tem momentos que eu me deparo com situações que mais do que ser assertiva, muitas vezes é necessário demarcar território e se apropriar do que é seu. É sobre estabelecer limites e ser objetiva ao dizer, sim! eu quero! Isso é meu! Antes de pensar em compartilhar ou entregar o que é seu para outro. E nesse lugar muitas vezes visto como masculino, de ter que se posicionar com tanta firmeza, que a reação do lado de lá é muitas vezes é de completa estranheza, especialmente quando utilizado por uma mulher.
Ah as contradições da vida…. Nunca gostei deste estilo de atuação. Mas também nunca fui de falar não para dizer sim, ou dizer sim para chegar ao não. Na verdade, talvez seja o meu excesso de atributos femininos que acreditam que o mundo é abundante, dos negócios e da vida como um todo. E que, por isso, não faz sentido armar uma guerra, delimitar espaços, separar territórios. Sempre vai existir em abundância recursos para todos. Mas, para chegar neste ponto, onde a mentalidade é infinita em soluções, no criar e transformar, e que o estilo de gestão é voltado à colaboração e a complementariedade, que é preciso dar um salto na perspectiva individual. E isso significa dizer que cada um, precisa primeiro olhar para si como um ser único, pleno, abundante. Que tem tudo que precisa, inclusive os recursos e talentos para enfrentar o mundão lá de fora e co-criar com o outro e assim somar, multiplicar e não subtrair ou dividir.
Olha eu aí de novo eu me deparando com outros atributos femininos, que o autor de cultura organizacional Hofstede apresenta. O feminino expresso na liderança olha para todos, acolhe a diversidade, acredita e abre espaço para a cooperação. Tem países inclusive, segundo a pesquisa deste autor, que não conseguem compreender essa separação entre os atributos femininos e masculinos, porque eles estão presentes juntos em cada um de nós, independente do gênero. Mas ele sozinho não consegue transformar o mundo. A força de saber se apropriar do que é seu, quando a dúvida existe, também é de suma importância. E que como um fluxo contínuo se depara no limite do que é compartilhado com o outro.
E no meu questionamento, ou tentativa de compreender essas diferenças, tenho refletido sobre essas questões. Que talvez não se relacionem ao gênero, mas sim a forma de aprender e liderar de cada um. Primeiro liderando a si mesmo e depois outras pessoas, negócios, organizações. E deste lugar, será que sabemos o que esses limites significam? Será que sabemos o que é nosso? E o que é do outro? Será que aprendemos a respeitar o outro verdadeiramente? E conseguimos perceber quando estamos nos apropriando indevidamente de algo que não é nosso?
E então, eu, primeiro como líder de mim mesma, preciso aprender ou relembrar, quais são os meus limites, o que é meu antes de entregar para o outro. E comunicar, fazer acordos, e reforçá-los, muitas vezes de forma assertiva, clara, objetiva, toda vez que for necessário. Mas será que isso não está só no liderar? Será que para compreender a diferença de estilo de gestão temos que dar nomes diferentes e distanciar ao invés de compreender o que aquilo significa? Ou será que somos verdadeiramente capazes de nos apropriarmos do que é nosso e liderarmos com sabedoria para nós e para os outros? 😉
Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊
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