Foto: EVANDER PORTILHO

 

              Há dias tenho pensado sobre quantas vezes desconstruí. Quantas vezes virei de ponta cabeças a vida. Quantas vezes falei sim para desafios que nem sabia se seriam possíveis. Tem um quê de doido de quem embarca nessa vida para liderar. Tem um quê de ter uma clareza tão grande, que a vida pode ser virada de cabeça para baixo, que parece que tudo faz sentido. E tem um quê, de querer realizar muito, que faz com que o desconstruir seja só uma parte do processo.

               Claro que o sentido só se faz quando a turbulência passa, quando os desafios vão ficando menores, as águas mais claras. Mas a calmaria é só um momento de descanso, de aprendizado, de recolher, reorganizar para poder em um novo momento, não tão longe, desconstruir de novo. Aceitar um novo desafio, um novo projeto, dizer que sim, que dá conta, mesmo sem saber como será. A gente chama de assumir riscos calculados. Calculados por quem avalia a vida sobre outros contextos. Cálculos muito particulares que só quem lidera sabe que pode correr. Quem lidera a si mesmo e lidera negócios, especialmente nesse país de meu Deus que é puro desafio.

               Um quê de doido eu chamo de visionário também. Para aqueles que veem longe, mudar de rota ou seguir um caminho que ninguém trilhou não parece tão maluco. Maluco é aquele que quer fazer sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes, dizem outros tantos doidos. Eu, geminiana maluca, faço parte desse seleto time. Pelo menos acho, ou gosto de pensar que sim. Olhando para tantas desconstruções de vida e de carreira, e sabendo que o sol nasce para todos, confesso que as desconstruções vão ficando mais comedidas com o passar dos anos. Mas, inspirada no Ricardo Semler, a cada 4 anos, a gente inventa um negócio novo para se coçar.

               E ao final, o quê mais doido deste processo está em olhar para trás, que só é possível nos momentos de calmaria que acontecem depois da turbulência, que o desconstruir fez com que as coisas voltassem para os lugares. Quase como se todo o processo de mudança, de transformação, de dor, de feedbacks doloridos, dúvidas, inseguranças, reforçassem a presença, o hoje, a essência de cada um. Como se desconstruir fosse necessário para lembrar da construção dos próprios sonhos e quem sabe deixar algumas pegadas de registro, de existência, ou sobrevivência neste mundão de meu Deus.

 

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊