Foto: EVANDER PORTILHO

              Por longos anos corri. Tinha uma ânsia de chegar logo no fim de cada etapa que muitas vezes achava uma chatice ter que fazer festa para demarcar cada passagem. Tinha uma ânsia tão grande em consumir todas as coisas o mais rápido possível que ouvia pouco a minha voz interna e o devagar me incomodava.   

               Claro que o mundão lá de fora ajudou a reforçar a velocidade em mim. Provavelmente você também sofre os efeitos da vida a um clique, das coisas prontas instantaneamente, da mudança e da inconstância ser algo tão valorizado. Vejo nas organizações. E claro que me enquadrei muito bem no ritmo frenético de dar conta de um milhão de coisas ao mesmo tempo. E eu era muito boa nisso. Será mesmo? Mas a que custo?

               Dos aprendizados do passar do tempo e do mundo que virou de cabeça para baixo, aquela ansiedade em fazer tudo na velocidade da luz baixou. Hoje quando falo para o mundo que fico mais confortável em uma velocidade mais baixa poucas pessoas acreditam. Confesso que quando encontro líderes hoje correndo enlouquecidos eu me assusto. Me revejo neste lugar e peço para eles respirarem. Talvez eu esteja reforçando mais uma vez um conselho que eu ouvia pouco.

               Na ânsia de entregar e alcançar aqueles lugares que eu nem sei por que estavam ali como metas eu segui o efeito manada. Completei o check list de todos os afazeres que o mundo disse que eram importantes: escola, faculdade, multinacional, mestrado, posição executiva, casamento… E no auge dos 40 ou na crise deles, ou a crise de autenticidade, que a teoria dos setênios traz, veio à tona. Quem sou eu na fila do pão? Como diz uma grande amiga e consultora Fabi Fabri.

               E aí parei de correr. Não fazia mais sentido correr. Esse caminho de descobrir verdadeiramente a minha essência não estava lá fora. E olha que eu achava que eu era inteligente. Ah, o efeito manada… E aí, para tudo que a gente aprendeu e entendeu pouco, como diria papai, é muito mais difícil desaprender do que aprender. E nesse lugar de investigação estou igual criança, encantada com tanta coisa que não sei sobre mim, nem sobre o mundo. Fazendo um monte de perguntas antes de sair correndo. Na verdade, não tenho mais vontade de correr. Porque percebi que quando eu corro eu perco a compreensão dos símbolos, dos significados, a intensidade das emoções, a beleza das passagens, das paisagens, das relações, a presença do outro e de mim mesma.😉

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊