Foto: EVANDER PORTILHO

       Tem um lugar da liderança que é muito desafiador. Porque o poder do título sobe à cabeça e muitas decisões são influenciadas pelo ego. Mas, quando isso acontece, aquele que recebeu e não honrou essa posição é rapidamente deposto. Como nas histórias da realeza, costumo dizer e ver, dentre àqueles que se sentam verdadeiramente nesta cadeira, que o líder é aquele que é escolhido. E ele só está ali porque outras pessoas assim o quiseram.

               E não consigo não retomar às histórias reais, do tempo da monarquia em que vimos muitos reis e rainhas que perderam seus reinados. Hoje nas organizações e na vida não é diferente. Aquele que se senta no trono da liderança, muito mais do que carregar um nome pomposo, um cargo ou um título, tem uma responsabilidade enorme em fazer com que a sua missão, que foi apoiada por outros, aconteça.

               Gosto de ver como uma missão, aquele suspiro, aquela ideia que não sabemos por que devemos perseguir enquanto líderes. Um lugar que não sabemos qual é, mas que queremos alcançar. E ele é tão nítido para nós líderes, que enche o nosso coração de alegria, e quem nos vê falando percebe pelo brilho no olhar, que aquilo sim é real. Aquela missão, aquele lugar mágico que está desenhado e vislumbrado na cabeça do líder como algo possível de ser alcançado, que transborda, contamina e faz com que outras pessoas também queiram chegar lá.

               E tantas vezes ouvimos que não vai dar certo. Somos desencorajados pelos desafios diários dos acordos que são quebrados, do valor que não foi pago, dos prazos que não foram cumpridos e de tudo que sim! vai dar errado. E mesmo assim, como por mágica, intuição ou simplesmente teimosia, nós líderes que nos sentamos na cadeira, ainda acreditamos que aquele sonho é possível de ser alcançado.

               E como verdadeiros heróis e heroínas vamos à luta, vencemos as batalhas, derrotamos os dragões ou leões dia após dia. Mas, o mais desafiador de toda essa história está, não em ter força e energia para vencer os obstáculos, aquilo que sabemos que teremos que driblar, as ideias que não emplacaram, os projetos que não tiveram o resultado esperado… o mais desafiador está em conseguir verdadeiramente apropriar-se do seu lugar. E apropriar-se verdadeiramente, não pelo ego, título ou dinheiro que se pensa que irá ganhar. Mas em muitas vezes ter que desagradar, dar a última palavra, expulsar os ladrões do templo e realmente assumir o seu lugar. Para fazer o que é certo, para não ter dúvidas que aquele sonho, louco, difícil, que será desacreditado, é o que faz a vida caminhar.

             Para mim a missão da liderança, passa por apropriar-se do que é seu, de ser exemplo, de falar muitos nãos e de não agradar a todos. Mas acima de tudo está em seguir aquele sonho que não está conectado com o ego, mas é sentido e idealizado com a alegria de transformar o mundo em um lugar melhor. E que por isso contamina outros a seguirem porque sonham juntos, sentem em seus corações que é o certo a ser feito, e aí sim, conectam-se verdadeiramente à mesma causa. E acima de tudo, de honrar e respeitar aqueles que vieram antes, que apoiaram, suportaram e transformaram este lugar que hoje existe, para que novos líderes se sentem, e que saibam, que ao final do seu reinado essa cadeira será ocupada por outro rei ou rainha. 😉

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊