FOTO: https://www.instagram.com/clickcml/

                Nos habituamos a seguir o tempo do relógio. Fracionamos nossa vida em horas, dias, semanas e alguns meses que nem vemos mais as estações do ano, o sol, a lua, as estrelas. Esquecemos que antes dos processos produtivos ditarem o ritmo de nossas vidas, nossas cidades, nossas agendas, eram as estações, o observar do nascimento, desenvolvimento e morte dos seres, o nascer do sol e a presença da lua que nos diziam como era o ritmo da vida. E dentro dessa segmentação do tempo que o relógio nos indica que fomos inserindo o trabalho, mas esquecemos o que significado dele em nossas vidas.

               Expressão mais pura de quem nós somos! Já fomos cuidadores, artesãos, comerciantes, guerreiros, artistas, escritores, professores… e éramos selecionados por nossas habilidades quando vivíamos em aldeias (em um tempo que nem lembramos mais). E neste tempo que não existiam máquinas eram os nossos talentos que eram vistos. Entregávamos para a comunidade, para o outro aquilo que transbordava em nós, aquilo que fazíamos bem e que reforçavam nosso senso de pertencimento e nossa auto realização. Mas, em algum momento da história nossos talentos foram submetidos a castas e as famílias. Devíamos ser o que havia sido determinado e com a industrialização e a segmentação das atividades essa lógica continuou por muito tempo. Quase como se tivéssemos que usar uma roupa que não foi feita para o nosso tamanho. E essa lógica de que eu devo me encaixar no molde de um sistema fez com que surgisse um novo sentimento, o da insegurança com relação à minha capacidade, ao meu pertencer e especialmente à minha sobrevivência, afinal, eu trabalho para pagar as contas, não é?   

E veio essa nova onda, quase um tsunami que nos chacoalhou e nos fez repensar. Mas tão logo nos agarramos novamente naquela máquina frenética de não ter tempo, de ter que produzir a qualquer custo, de ter que nos encaixarmos no sistema por pura insegurança, que esquecemos de novo de respeitar o nosso ritmo, o nosso tempo. Mas neste momento da história temos um agravante, ou seria um impulsionador lindo, que tem nos mostrado, mesmo para quando não queremos ver, que não conseguimos mais competir com a máquina. Não seremos mais produtivos mesmo com todas as tecnologias de automação e inteligência artificial. NÃO!!!!!  Não vamos conseguir vencer o tempo que acelerou mais e mais porque estamos a um clique de distância de qualquer pessoa. NÃO!!! Então o que fazer? Se fomos programados para sermos super produtivos, para conseguirmos fazer mais com menos, se aprendemos a usar aquela roupa que nunca coube?

Ah! Humanos, usem os talentos, soltem as amarras, rasguem as roupas, esqueçam os relógios de ponto, de pulso, digitais. Lembrem-se da sua natureza, do seu ritmo, dos seus talentos. Não dá mais tempo para se encaixar em lugares que não cabemos mais, não dá mais tempo para fazer aquilo que não nos traz senso de pertencimento e autorrealização. Não dá mais tempo para não sermos o que viemos para ser. A nova lógica não está em encaixar as pessoas aos lugares e posições, mas sim, em descobrir o que o outro entrega de melhor e a partir daí abrirem novas e inesgotáveis possibilidades. Porque cada humano é um universo inteiro, cheio de talentos, habilidades e competências que transborda para o mundo, que o mundo precisa muito e quer pagar por elas. Então, bora olhar para dentro, reconhecer o que nós fazemos de bom e a partir daí oferecer para o outro em forma de trabalho, de entrega. E como em um passe de mágica, o tempo não será mais nosso inimigo, mas será parte do processo de autoconhecimento e de reconhecimento daquilo que temos de melhor! Será jornada e não falta de tempo! 😊

 

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊