Foto: EVANDER PORTILHO

Já faz algum tempo que tenho me questionado sobre o que significa o feminino na liderança. Não, não estou falando de mulheres que são líderes, estou falando do conceito do feminino. O que será que é uma liderança feminina? E para isso voltei em alguns textos antigos sobre mitologia, deusas, heroínas misturadas com princesas, bruxas, guerreiras e anciãs e tantas representações do feminino, que foram esquecidos e outros que foram contados, pela fantasia ou pela história. E percebi que as influências, do contexto, das experiências, da personalidade, somadas com todas as oscilações hormonais mensais, pelo ciclo da lua, do sol e a maternidade também ajudam a colocar mais cor nesta história. Então, para tentar achar uma forma de traduzir essa tal liderança feminina, vou usar a voz.

               É pela voz, não pelo tom ou afinação que distingue os gêneros, mas pelo lugar de fala que percebo quando os atributos femininos aparecem na liderança. E não é o mandar, nem ter a última palavra nas decisões, a liderança feminina acontece na voz que promove a cooperação, que influência a participação, a criatividade, a qualidade das relações, o olhar para as minorias. A voz que se preocupa genuinamente com as pessoas e que faz com que elas sejam vistas e que se sintam seguras e amadas. E quantas vezes essa voz está no olhar, no tocar e no calar. Quantas vezes a voz da liderança feminina, que se apropriou da lógica e assertividade dos atributos masculinos para sentar-se à mesa, resolveu os problemas usando a intuição e a criatividade de forma colaborativa. Ah essa voz doce e suave acalma, traz estabilidade e sentido às relações.

               E o mais lindo desta história é que a voz da liderança feminina não está no gênero, não é exclusivo das mulheres. Está em todos nós, homens e mulheres que conseguem ouvir a sua própria voz, e a voz do outro, e considerar tantos e quantos forem os diferentes tons e pontos de vista. É ouvir a intuição, acessar a criatividade, trabalhar em equipe, prezar pelas relações. É saber que as nossas emoções têm um papel essencial para nossos aprendizados, que nossas dores e amores deixam marcas profundas, e que refletem nas nossas escolhas, e que trancá-las ou ignorá-las não é inteligente. Que a força e a assertividade precisam andar de mãos dadas com a vulnerabilidade e a empatia. Porque sozinho vamos mais rápido, mas juntos chegamos mais longe. E que a beleza da vida não está em acertar o alvo, mas nas cores e na beleza de tantas formas de pensar, sentir e agir neste mundo.

               Então, eu que usando a língua dos homens, para ter o meu lugar de fala no mundo do trabalho, percebi que os atributos masculinos me fizeram sentar à mesa, mas que foram os femininos que me levaram a liderar, a criar, influenciar e a estabelecer relações de confiança. Que a vulnerabilidade das emoções, que transbordam e pulsam de formas completamente diferentes em cada ciclo, tem muito poder. Que reconhecer e falar sobre as emoções não é sinal de fraqueza. E que ouvir a própria voz interior é o primeiro passo para liderar a si mesmo. E que o exemplo grita! 😉

Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊