Foto: EDU FRAGOSO
Fim de ano é sempre um momento propício para isso. Para encerrar, repensar, descartar, colocar pontos finais nos assuntos, projetos, sentimentos e tudo aquilo que não queremos mais. Na verdade, todo mês fazemos pequenos fechamentos de ciclos para iniciar outros novos no mês seguinte. Mas, quando se encerram os 12 meses do calendário gregoriano, para nós que nos adaptamos a ele, é tempo de um grande wrap up, amarração, fechamento, ou como quer que nomeemos.
E neste mundo de velocidade instantânea, parece que finalizar está em cancelar, deletar, ignorar. Mas, na verdade, o fechar dos ciclos vai seguir outra lógica temporal, o tempo do sentir. E esse sentir tem a ver com o acolher das emoções, o processar, digerir, entender onde dói no corpo para aí então racionalizar e decidir o que fazer. E esse tempo a gente não mede pelo relógio, nem pela contagem do nascer do sol ou das fases da lua, mas sabemos que é ele, o tempo, que vai nos ajudar a colocar, o que muitas vezes não conseguimos explicar, porque apenas sentimos, no lugar.
Mas qual lugar? Será que tem um caixinha que podemos nomear como ciclos fechados, assuntos encerrados, não quero mais falar sobre isso? Será que tudo aquilo que nos predispomos a encerrar, sejam tarefas, projetos, parcerias, relacionamentos, definidas pela nossa razão, no espaço de tempo que delimitamos, quando chega o deadline vão magicamente para esse lugar? Penso sempre, quando tenho que encerrar um projeto, que estou tão envolvida emocionalmente, na curva da mudança da autora Klubber Ross. Inevitavelmente tem algo que morre quando terminamos um projeto, uma atividade, ou um relacionamento. E será que nós queremos que morra? Em que fase do luto, ou da curva da mudança, estamos quando um ciclo precisa ser encerrado? Será que estamos negando, ainda sentimos raiva, queremos barganhar mais um pouco, já aceitamos ou estamos explorando novas possibilidades?
Confesso que na minha agilidade de tempos atrás eu saltava para todas as novas possibilidades que nem me permitia percorrer todas as fases. O lugar novo, que todo ciclo que se fecha abre, era tão encantador que eu nem queria olhar para trás. Mas, sábios sentimentos, sim, sempre eles, deixam marcas no nosso corpo. E como um aviso, nos lembram que para antes de saltar para o novo, precisamos acolher e cuidar do que ainda dói. E, na beleza dos ciclos que se fecham, está presente a sabedoria de passar por cada uma das fases. Em se entregar, sentir, raiva, tristeza, dor, e expressar na palavra, no choro, no sono, no silenciar, ou colocar para fora, ou em outro lugar, até acomodar. E aí então se encantar com novas possibilidades, olhar para frente, sonhar novos projetos, encontros, sentimentos. E ainda espiar pela fresta que vai fechando, pelo retrovisor, para deixar registrado e para poder no futuro relembrar com alegria do caminho percorrido.
E para isso, o tempo do relógio, do fim do ano, dos ciclos do sol e da lua, nos ajudam a demarcar e a empurrar aquelas decisões que muitas vezes não queremos tomar porque não nos sentimos prontos. Ou que ainda não queremos terminar, porque não chegamos ao final da curva da mudança, não sentimos e processamos todas as emoções. E que talvez queiramos ainda viver um pouco mais e registrar as mais lindas na memória, no corpo e no coração. Para quem sabe, depois que o tempo passar, a gente possa por meio delas, acessar, relembrar e reaprender com tudo aquilo que vivemos e sentimos.
Que este fechamento de ano nos ajude a sentir, organizar e finalizar o que precisa ser finalizado. Para que novas tarefas, projetos, sonhos, relações e sentimentos possam existir no novo ciclo que já começa a se abrir! 😉
Paula Foroni tem pesquisado e reaprendido todos os dias com líderes, times e organizações. Facilitadora em projetos de transformação organizacional. Eterna aluna, hoje está sentada na cadeira do doutorado em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo para fazer muitas perguntas e, quem sabe, descobrir novos caminhos. 😊
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